Na luta contra obesidade, governo estuda mudar rótulos de alimentos

Na luta contra obesidade, governo estuda mudar rótulos de alimentos e reduzir açúcar de bolos e achocolatados

Especialistas dizem que políticas de saúde pública devem envolver também atividades físicas

O Ministério da Saúde estuda mudar os rótulos dos alimentos industrializados para facilitar a leitura das quantidades de sal, açúcar e gorduras trans presentes em cada embalagem. A informação foi confirmada na última semana pelo ministro Ricardo Barros no Ethanol Summit — evento promovido pela UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) voltado para discussões sobre energias renováveis.

— Nós temos um estudo da ABIA (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação) para a confecção de rotulagem dos alimentos com a sinalização como um semáforo: verde, amarelo e vermelho. O objetivo é que as pessoas percebam, na parte frontal do rótulo — estas cores estão presentes naquela parte da embalagem que fica de frente para o consumidor na prateleira —, o quanto tem de sal, açúcar e gordura trans em cada alimento. Isso é uma leitura muito fácil que vai fazer com que o consumidor perceba, com clareza, o que está consumindo.

De acordo com Daniel Magnoni, cardiologista e nutrólogo do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, o rótulo dos alimentos industrializados deve se tornar uma ferramenta de educação nutricional, a partir da qual as pessoas possam se informar melhor sobre ingredientes e dietas equilibradas.

— Várias medidas podem ser tomadas nesse sentido para facilitar a leitura e compreensão para todos os setores da população: é possível aumentar o tamanho das letras nas embalagens, colocar cores que descompliquem o entendimento. Algumas coisas precisam ser adaptadas também, as pessoas às vezes não sabem que o “sódio” presente no rótulo é o sal; não compreendem os quatro tipos de gordura especificados nas embalagens ou que %VD corresponde a percentual de Valores Diários.

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Entretanto, Magnoni defende que não basta adaptar as embalagens para que a população se torne mais consciente: “É preciso ainda promover a educação nutricional nas escolas, ter nutricionistas em postos de saúde e tornar a preocupação com o excesso de peso e com a dieta equilibrada uma porta de entrada para toda a atenção às condições de saúde de um indivíduo”.

Menos açúcar nos alimentos

Segundo Ricardo Barros, o Ministério da Saúde está reunido desde o começo do ano com profissionais de medicina, educação física e nutrição para elaborar um plano de redução de açúcar utilizado em alimentos industrializados. De acordo com ele, o objetivo é lançar o acordo — que envolve bolos, achocolatados, lácteos, bebidas adoçadas e biscoitos — no segundo semestre de 2017. A medida faz parte das políticas do governo para enfrentar a crescente obesidade no Brasil. Estudo divulgado recentemente pela pasta mostra que, nos últimos 10 anos, a prevalência da obesidade na população brasileira aumentou em 60%, passando de 11,8% em 2006 para 18,9% em 2016. As pesquisas também apontam que o brasileiro consome 50% a mais de açúcar do que o recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

Ainda de acordo com Barros, outra das ações do governo para frear a obesidade seria acabar, em breve, com a oferta de refil de refrigerantes em restaurantes e redes de lanchonetes no País. Segundo o levantamento Vigitel (Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por Inquérito Telefônico) de 2016, 16,5% da população brasileira consome refrigerante ou sucos artificiais quase todos os dias.

— O presidente da ABIA está intermediando com as redes de fast food e restaurantes um acordo para que não se faça mais a venda refil dos refrigerantes, porque não é possível que nós incentivemos a população ao consumo de bebidas açucaradas. Há estudos que mostram que as vendas em refil aumentam em 30% o consumo de refrigerantes nas lanchonetes.

Importância da atividade física

O preparador físico Marcio Atalla pondera que, além do papel fundamental da alimentação saudável na qualidade de vida dos brasileiros, é necessário conscientizar a população sobre a importância dos exercícios físicos e garantir condições para que as pessoas evitem o sedentarismo.

— O ser humano, naturalmente, poupa energia e se movimenta apenas quando é necessário. Hoje, o brasileiro é muito condicionado às possiblidades que o meio ambiente oferece para a movimentação: andamos muito de elevador, escada rolante, passamos tempo em frente ao computador, etc. O problema da obesidade, desta forma, vai além das medidas imediatistas, como sobretaxar ou reduzir ingredientes dos produtos. São necessárias boas políticas de saúde pública para munir as pessoas de informação.

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Atalla dá o exemplo das intervenções feitas na cidade de Jaguariúna, no interior paulista, onde o combate ao sedentarismo se deu com caminhadas coletivas e, principalmente, com o incentivo de atividades físicas em momentos de lazer. Segundo o profissional, ações como oficina de nutrição e educação física, orientações clínicas e treinamento de agentes de saúde garantiram mudanças nos hábitos de vida de 40% da população no município.

— O problema da obesidade no Brasil é profundo e envolve educação populacional, o que não se faz da noite para o dia.

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